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quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Espaços, cores e outros amores.

Alexander Pivato
uma metrópole provinciana em silêncio e uma brisa fresca invadindo o corpo, depois de dias tórridos, molhados de suor e desconforto. um lugar que parece desabitado, exceto porque as folhas das árvores se movem, os pássaros cantam, pequenos insetos produzem suas falas enigmáticas. e observar nesses últimos dias, na jornada de filmes de todas as classificações (ou desclassificados), como as pessoas da nossa espécie se movimentam e choram sempre quando amam: choram de felicidade e tristeza, choram porque gritam com os olhos e, para não fazê-los explodirem, refrescam as pestanas. quando o silêncio chega, num lugar de constante trânsito, chega também um desconhecimento, um aperto, uma vontade de sair desse lugar, mesmo ele estando muito melhor do que cotidianamente é. a problemática dos lugares, a problemática dos animais nômades, a problemática de nos terem, de várias maneiras, exigido um endereço. Nem todos têm endereços e vale tudo! Porque sair deles é sair de uma maneira de pensar e vivenciar o mundo. um pouco de azul e também de verde para compor um sentido de tranquilidade e tormento, os sutis movimentos de quem deve pensar com as folhas e definitivamente não precisa cobrar contas atrasadas. para pagar outras contas. não ter contas é a melhor maneira, no capitalismo, de sair do endereço. Embora, ter contas que não se pode pagar de jeito nenhum, segundo um amigo meu, seja passar a perna em grandes corporações varegistas. Pode ser lá onde ele está, não tenho conhecimento se a regra está globalizada. e se assim for, a forma continuará a mesma, não? Pois não me parece que essa estratégia seja capaz de mudar o sistema radicalmente (a menos que isso desviasse o dinheiro de suas rotas de circulação ordinária). E diga-se: o sistema capitalista é um mostro! E não sabemos mais atacar monstros porque as armas que dispunhamos foram queimadas nas fogueiras durante os séculos de organização da lógica ocidental, falo da lógica dura... porque evidentemente há muita coisa correndo por aí, nesses dias de silêncio... gosto de hoje porque os trabalhadores não trabalham e irão beber até o corpo ficar forte de embriaguez e deixarão que esse dia seja a comemoração mais importante de todo um ano cheio de mais dias. mesmo assim, eu gosto, porque os trabalhadores não trabalham hoje (nem todos, claro. O capitalismo não pára). E gosto mais de hoje porque tudo está em suspenso e o cheiro da rua de manhã não é o mesmo do cheiro da... descobrir onde estão as damas da noite! Tenho sufocado com seu aroma nas madrugadas de Porto Alegre. Depois de acordar, o que se faz no último dia do ano?