A memória pode ser um lugar de relações obscenas. Pelo menos uma das memórias que conheço, bem próxima por sinal, relaciona assim porque encontra coisas diversas para tentar entendimento. E o diverso guarda uma potência de obscenidade na não medida, no confronto, sempre algum desentendimento como força de guerra. Uma guerra de colocar as partes para fora, de tocar, amassar, perfurar, estraçalhar, juntar pedaços, fazer configurações depois que uma linearidade narrativa se perdeu na ferida de um arranhão ou num corte profundo. Quando se faz o conflito, rasga-se algo do passado, às vezes porque é sobre ele que se invoca a legitimidade de algum dos lutadores ou de todos os envolvidos, às vezes porque o passado é tudo o que mobiliza com certa segurança argumentativa. Afinal, não se trata de duelar com espadas que fizemos hoje para discutirmos pensamentos que atravessam agora, trata-se de fazer pistolas para matar em nome de. E o NOME invocado é nação, pátria, um deus, é um nome de passado. Daquele lugar que não faz mais parte da maioria das vidas que vestem a farda para dizer o quê não pode ser! e quanto mais longe o lugar deixado para o passado, mais obscuro e mais difícil de ser contestado com força de quebra, pois que está protegido por àqueles amordaçados de "razões". Então, para mentes duras, razões obscenas!!! E invoco um "homem" de outro espaço material, Sade, para marcar que o passado pode estar lá, mas que está sempre bem dentro quando nos propomos à algum exercício de fabricação com múltiplos. Memórias estão obscenas porque também podem e devem (na minha contente vontade) se relacionar intesamente com tudo!
P.S: Sim, dos perigos... sabê-los durante a relação e não somente por regramento. Porque as regras também e muito produzem seus grandes! perigos.