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quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Espaços, cores e outros amores.

Alexander Pivato
uma metrópole provinciana em silêncio e uma brisa fresca invadindo o corpo, depois de dias tórridos, molhados de suor e desconforto. um lugar que parece desabitado, exceto porque as folhas das árvores se movem, os pássaros cantam, pequenos insetos produzem suas falas enigmáticas. e observar nesses últimos dias, na jornada de filmes de todas as classificações (ou desclassificados), como as pessoas da nossa espécie se movimentam e choram sempre quando amam: choram de felicidade e tristeza, choram porque gritam com os olhos e, para não fazê-los explodirem, refrescam as pestanas. quando o silêncio chega, num lugar de constante trânsito, chega também um desconhecimento, um aperto, uma vontade de sair desse lugar, mesmo ele estando muito melhor do que cotidianamente é. a problemática dos lugares, a problemática dos animais nômades, a problemática de nos terem, de várias maneiras, exigido um endereço. Nem todos têm endereços e vale tudo! Porque sair deles é sair de uma maneira de pensar e vivenciar o mundo. um pouco de azul e também de verde para compor um sentido de tranquilidade e tormento, os sutis movimentos de quem deve pensar com as folhas e definitivamente não precisa cobrar contas atrasadas. para pagar outras contas. não ter contas é a melhor maneira, no capitalismo, de sair do endereço. Embora, ter contas que não se pode pagar de jeito nenhum, segundo um amigo meu, seja passar a perna em grandes corporações varegistas. Pode ser lá onde ele está, não tenho conhecimento se a regra está globalizada. e se assim for, a forma continuará a mesma, não? Pois não me parece que essa estratégia seja capaz de mudar o sistema radicalmente (a menos que isso desviasse o dinheiro de suas rotas de circulação ordinária). E diga-se: o sistema capitalista é um mostro! E não sabemos mais atacar monstros porque as armas que dispunhamos foram queimadas nas fogueiras durante os séculos de organização da lógica ocidental, falo da lógica dura... porque evidentemente há muita coisa correndo por aí, nesses dias de silêncio... gosto de hoje porque os trabalhadores não trabalham e irão beber até o corpo ficar forte de embriaguez e deixarão que esse dia seja a comemoração mais importante de todo um ano cheio de mais dias. mesmo assim, eu gosto, porque os trabalhadores não trabalham hoje (nem todos, claro. O capitalismo não pára). E gosto mais de hoje porque tudo está em suspenso e o cheiro da rua de manhã não é o mesmo do cheiro da... descobrir onde estão as damas da noite! Tenho sufocado com seu aroma nas madrugadas de Porto Alegre. Depois de acordar, o que se faz no último dia do ano?

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Notas

Alexander Pivato
Conflito: não conjugação. Eu não posso. Administrar a insanidade. Temos uma louca e a necessidade de direção. É provocação. Os pais produzem monstros, sim. Quem é quem? Quem é essa pessoa que eu nunca poderei tocar, saber? E outros irmãos para saber. Saber sabedoria sandice, suor das lágrimas. As circunstâncias e problemas de resolver, melhor, as interpretações das quais nós estávamos conversando, aprendeendo. É muito estranho! E quase os outros, de rapinagem, te tratam como insano. Encontrar todos aqueles que ninguém se aproxima por medo. Saber daqueles que amamos e morreram? E morreram ontem? Hoje estão por aí falando do passado. E Virginia Woolf: a verdade é verdade porque é forte.
Quem riu? Quá, quá, quá, quá, quá: Fui eu que ganhei a graça... Para me perder na selva, que delícia... Aquele sabe fazer de uma árvore um esconderijo. Porque porcos, mas podemos ser sujinhos assim... e experimentarmos as coisas com contentamento. Tu não podes ou tu podes. Fazer coisas que são tuas. Fazer que tipo de coisas? Fazer como? Mais uma vez às voltas com aventuras ficcionais. Até quando não for mais. Descarregar a tinta da minha caneta para fazer diferente (parece sempre a mesma coisa dita de outra forma, mudou?).

P.S: tudo porque as pessoas foram dizendo e eu anotei. Contudo, a responsabilidade é minha.
Estávamos: Juli, Paula e Sara.

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Para Juli:

"Tanto em pintura como em música e literatura, tantas vezes o que chamam de abstrato me parece apenas o figurativo de uma realidade mais delicada e mais difícil, menos visível a olho nu."
Clarice Linspector
Alexander Pivato

:aprender as maneiras figuradas de expressão. dar risada porque parece que escrevo de maneira figurada, mas é tudo quase objetivo. Tão objetivo que estou com dificuldades em diferenciar sonhos da realidade. Uma relação através do sonho com os inimigos, assim como os ameríndios da amazônia. Que movimento fazemos com essas criaturas que compõem nosso corpo, também o repertório epistemológico, se podemos dizer assim. Só as criaturas deles são diferentes das minhas, mas todas são humanas e nós? Como estamos? Eles não tem muitas dúvidas, ou em constante dúvida sabem como compor com os corpos inimigos, eles sabem lutar com "os inimigos fiéis": canibalizam e são canibalizados. Eu ainda estou na fase de entender e conhecer quem são esses inimigos. Por enquanto ainda exercito um pensamento racionalista: isso aconteceu ou foi sonho? E a resposta é quase impronunciável. Me assustei outro dia quando senti uma dor intensa no peito - pontadas atrozes - e não consegui identificar se era sonho ou foi de olho aberto. De qualquer maneira foi real, pensei. E fiquei mais confusa, só que dessa vez a situação foi inversa: tive problemas no corpo acordada e... no outro dia eu pensei que tinha sido sonho porque não havia nem resquício da dor. Embaralhada com os sentidos e aprendendo tanta coisa estranha! Desaprendendo tantas outras fáceis maneiras de organizar o real. Será que se fica louca quando se começa a compor com os sonhos? Mas se for essa loucura de conhecimento eu deixo porque fico contente. Além do mais as coisas estão relativamente fora de controle. Conter? Se eu não fizer eu explodo, explodo mesmo! Como mediar corpo aberto, corpo fechado. Tenho muito para encontrar com os coletivos indígenas. Eles sabem muito mais do que eu do que estou falando. Será que estou falando alguma língua reconhecível por qualquer ser? Escrever em locais públicos tem essa particularidade de se encontrar com supostos leitores. Quais leitores? Penso agora nas pessoas que conheço... a Juli vai entender do que estou falando... acho. Tãobem acho que a Clarice Linspector pensou bom!

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Ditaduras


Alexander Pivato

Os desaparecidos e mortos pela ditadura civil-militar; os apenados institucionais e as lutas de revolta. Algumas considerações a partir de falas e depoimentos de familiares de mortos e desaparecidos. Desaparecido já é morto? Quem legisla a morte? Quem a legitima no Estado de Direito? O Estado, única entidade que detêm o uso legítimo da força? Quem assinou o contrato social? Alguém lembra? Que história é essa de todos centrados em um? As partes e o todo? Mera coincidência, ou prática não demonstrada? Quais os investigadores de crimes? Quem os organiza, institui, autoriza? Quem manda em quem para quais? Como suportar as respostas cínicas, quando há respostas, à essas questões. Não sei como suportar! E sei, que aqui no Brasil, os familiares de presos políticos mortos e desaparecidos (e vice-versa) não suportam e lutam desde de dentro da própria ditadura até hoje. Sempre procurando as pessoas queridas, sempre pressionando a linha de segurança traçada para circundar os responsáveis pelas mortes, pelas torturas, pela tontura da "sociedade"(prefiro coletivos, segundo Latour) brasileira. Tive a oportunidade de ver e ouvir duas mulheres lutadoras na última sexta-feira (27/11) quando foi lançado o terceiro dossiê de mortos e desaparecidos e fiquei com o corpo todo inflamado, a pensar: como é o lugar do silêncio? O lugar do não-saber exatamente o que aconteceu com as pessoas perseguidas e torturadas e mortas e...? Como é buscar por aqueles que nunca mais voltarão? Buscar corpos inertes, histórias revoltas? Como é saber dos arquivos onde os crimes estão guardados e não ter direito de acesso? Como acreditar em democracia tal qual a discursam oficialmente? Como pensar em atuar na via institucional, especificamente, no judiciário e executivo, se as portas abrem somente com poucas e privilegiadas chaves? Elas respondem com suas ações, elas respondem identificando quais as poucas mãos que portam as chaves e o dizem - francamente - para quem quiser e quem não quiser escutar e são acusadas! Sim, acusadas de revanchistas! E se fossem, mesmo assim não estariam em guerra? Mas não é essa a guerra que elas fazem. A delas é de investigação, de mapeamento, de denúncia pública. A luta dessas mulheres é de tornar visível o que a ditadura fez questão de espremer até matar e continua espremendo para que o ato de espremer não venha à tona, não seja conhecido, quiçá questionado e condenado. À parte as nuances e sutilezas (que se dão através de angulosidades pessoais) daqueles preocupados em manter o sigilo sobre a violência "legítima" do Estado ditatorial e agora do Estado democrático, verifica-se as dificuldades de leitura das leis. As leis se leem com ideologia, para o melhor ou para o pior. Uma guerra, onde as batalhas vão sendo conquistadas uma a uma através da tática de guerrilha desses familiares. Abertura dos aquivos do período da ditadura, os coletivos empenhados em desbancar o fascismo exigem isso! Para não continuarmos apenados institucionais, para podermos fazer nossas as instituições, para que relações outras possam ser produzidas a partir de outras peças, que os jogos se misturem para que criemos outras formas de jogar. Eu quero saber o que fizeram com as pessoas em luta! Eu quero saber dos mecanismos de extorsão e exterminação da revolta! Eu quero saber!

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

pontilhados sobre mulheres.

Esse texto será quase diferente do que tenho exercitado nesses tempos, mas marco que deve valer alguma coisa e se mesmo não valer coisa alguma, ficará não menos quanto tantas palavras viajando nesse espaço de expressão.
Vejamos, a questão que arranho aqui é: mulheres. Arranho porque não faço escrita para alcançar absolutos, se eles existem? Então, faço deixar coisas que andam surgindo entre uma conversa e outra; uma observação e qualquer sentido; uma leitura e algumas dúvidas. Das conversas sobre como casais onde os homens amam mais, mais persistem as junções. Por quê? De encontros com várias tias em uma cozinha de avó num domingo, contentamento das histórias e articulações solidárias para as festas de final de ano. Me passa na cabeça: famílias interessantes contam mulheres interessantes. E disso, me dou conta que no romance de Virginia Woolf, "Noite e Dia", a autora faz o homem amar e a mulher passar por um sentimento mais brando do encontro. Eles decidem pelo casamento, mais precisamente, a personagem Elisabeth resolve positivamente por esse casamento (já havia desistido de um... e nunca quiz casamento algum, diga-se de passagem). O que é tudo isso? O que está nessas relações singulares que mulheres tecem, esses sutis bordados que articulam pontos cegos e fazem as coisas tomarem fôlego, sem se mostrarem. Dentro de situações estranhas. Contudo, nem tudo de mulheres é contentamento. Nossa! Que marca de dissimulação. E dissimulação não me parece justificável como defesa. Aliás, defender-se ou guerrear? Fico com a potência da guerra. Embate de forças, composição das diferenças. Sem manutenção da ordem própria potencializada pela dissimulação, que aliás é covarde. E falo de mulheres e não do feminino, aqui tenho ainda muito para buscar, talvez podemos pensar junt@s sobre. Alguns pontos soltos para provocar e também levar ao lixo a série de bilhetes que se perdem pela casa guardando apontamentos dispersos.

terça-feira, 17 de novembro de 2009

anões, formigas, medo.

Alexander Pivato
Água correndo em fio, no movimento ordenado pelas abas do telhado e dois olhos mirando ao longe, com pés apoiados em uma casa no meio de um morro. Uma luz avermelhada atravessando a noite. Mais uma vez a convergência da chuva com a preparação ritual de um corpo que quer caminhar e descer à cidade. Sair com guarda-chuva! Diligentemente abotoar a camisa e assentar a gola sob uma blusa desconhecida, emprestada de uma irmã que está na sala preparando pipocas para viajar com um filme. Essa arrumação acontece no quarto do casal que deitados na cama, não sei o que fazem, pois a concentração está no espelho, no peito feito com a cobertura de tecido. Um último detalhe da indumentária guia para outra dependência da casa e o canto do olho percebe um movimento estranho na terra, lá embaixo, entre as fruteiras. Fantasmas. Afinar uma mirada e de repende pequenos seres a correr pela sacada. Susto! Imediatamente trancar a janela de vidro e mais anões. Um deles tem uma espécie de pote de barro nas mãos que projeta até os vidros, mas o objeto não produz o despedaçamento esperado. Abre-se. Uma base e a tampa e fica parado a um palmo do vidro. Os anões correm, formigas se espalhando desordenadamente por todos os lados. Fechar todas a frestas, eles podem entrar em todos os lugares. Telefonar para a polícia. Instituição que está fora do privado e privando. Pensar nos lugares de passagem e evitar que entrem. A preocupação de não deixar passar ninguém. Proteger as pessoas da casa. E aquele copo de cerveja no parapeito da janela dando espaço de passagem. Nossa, sair daquele sonho. Pular da cama. Banheiro. Dormir mais um bocado e que nada. Anões para todos os lados. Ameaçadores. Que pequenos grandes aqueles, provocadores de fechamento. Dobrar de um lado para o outro a extensão corporal e cavocar um buraco entre os travesseiros, mas nada de sair da companhia dos seres corredeiros. Investigar mais e mais os buracos de passagem e ter medo de descer para trancar portas. O que adiantaria trancar se estivessem armados. E estavam armados com o medo. Sair do sonho. Levantar com aquele terror de anões escalando paredões e invadindo a casa. Quem invadindo aquela vontade de sair por aí, quem me deixando em casa a pensar em cadeados?

terça-feira, 27 de outubro de 2009

Cabide de meninas:

Laje
"Almoço na Laje"
espelho na mesa
problemas
danças
fumaça - tempo - fumaça
molhaceira
melhoramentos
melhor momento
tormento
atormentar
atomizar
atrapalhar
desastrar
verbar
reverberar
cavocar
cravar
cantar
contrastar
canibalizar
carnavalizar
calar
pontuar (às vezes)

As mulheres reunidas são também desconstâncias. Algumas acalentam normalidades, outras convertem privações em olhares oblíqüos, tem ainda aquelas que deixam o corpo todo gritar sintonias. Acontece de chegarem e o momento cristalizar, de partirem quando cumes atravessam sentidos. As mulheres em matilha e às vezes não dá certo entrar na fluência desse movimento. Então, as músicas poderiam ser rock'roll, mas são coisas de torcer o corpo de outra forma: torcer e torcer, eis a questão! Desformular as cervejas em localizações: há lugares diferentes em estados de bebidas. Porque de corpo cheio, o espírito extravasa. Corredor de misérias até nos tempos de contentamento. Repetições de feitiços e desastres (reintrodução de números telefônicos em agendas fantasmas).
Não se pode voltar no outro dia a todos os lugares habitados em algum dia.

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

O que fazemos quando fazer é contentamento? Brincamos com palavras!

Alexander Pivato
Sobreposição da folha branca, uma chuva de folhas na primavera dos lugares tecnológicos. E as constâncias, as similaridades, afastamento das comparações. Quando ritmos, cocerinhas no coque e as artes que vão des[onda]torcendo! Viva! As torcidas [onda] latinas?
Ouço vozes: "na bububia". eu vou, contigo eu vou... Parecem felizes a Céu e a Thalma. Parecem felizes as mulheres que dizem e cantam o que querem. Mas como saber a diferença entre o que dizem e o que querem...
Como, como, como, como... encher o espaço de dúvida. Não queria ser parlamentar e concluir no pá! "Pá, pá, parapapá quem riu?" Eu não Rio de Janeiro porque ainda é outubro. Bonita voz sem estação. Desmesurar. Obrigação de registro. Te gosto.
E...
E...
E...
Te gosto
Sem palavras
Caminhar outro caminho para ir
talvez parar e completar
os espaços em suspenso
quando desgovernar o que supunha
fraude
franja
francofonia
falácia
falência
Fantasia...
...
...
... ... ...
Adoro papel e caneta. Poderia resumir o mundoem papel e caneta.
A última e única palavra de ordem: agora vocês só tem papel e caneta:
façam o que quiserem "cuida para querer caixa de caneta com tinta na ponta"...

Amém (saraprofana).

Essas palavras foram escrituradas/rabiscadas durante um encontro (dos muitos) entre Sara e Juliane (grande amiga: AMIGA!), num sábado de comida especial e bebidas borbulhantes. As partes em itálico são de Juli. Mas a conversa é nossa!

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Canção:

Alexander Pivato
Prisioneiro da mesma fuga, só que dessa vez não caminhou sem rumo nem atirou-se ao lombo deJustificarum trem de carga; utilizou um ônibus para o mesmo lugar e prescindiu da aventura, aliás, covarde diante da potência da aventura. Interpreto um desajuste e o faço porque o personagem será de agora em diante também obra minha, intervenção, oficialmente (o poder das palavras!). Contava, que ele não deu-se ao trabalho de pensar em outro ambiente para acomodar-se depois de rasgar-se por dentro, para fora deixou escorrer lágrimas daqueles dois grandes oceânos que significam sua face, porque essa pessoa fala mais pelos olhos que pela projeção de ar através do aparelho fonador. Escreve palavras míticas, porque a linguagem dos olhos é ainda mais fluida que a linguagem das palavras; signos de mistério e para tamborilar o mistério. Saiu de uma situação que o apertava e se não o apertava alguma coisa produzia, porque foi-se e deixou tudo. Mas não foi ao nada para produzir outros tudos, foi buscar os resquícios de um tudo que já exprimentara. Poucas roupas, as melhores e a ideia de ir, mas sem certeza de ficar. Foi e ficou. Deixará o tempo do lugar da angústia em suspenso até recuperar as forças, até recuperar a coragem, até poder olhar novamente com os olhos de oceâno sem deixar partes do sentido caírem por aí, até resolver que está tudo resolvido: já não se lembra de tudo que deixou... procurará somente as imagens de constituição, as de sofrimento recortará e alimentará o quentume da frieza. Mas deixou mais que materialidades dentro do guarda-roupa, mais que o cachimbo na cabeceira da cama, mais que um retrato empoeirado; deixou violências, deixou desgoverno, deixou abismo para outro corpo. Esse não procurou nenhum meio de transporte nem mudou de casa tampouco rumou à distância do conhecido; esse outro corpo, que ficou no mesmo espaço já não ocupa o mesmo lugar porque não encontra, não encontra a potência do que conheceu... Tudo em dúvida! A composição quase rara, quase morta, quase da notícia que não chega nunca e quando aparece, abruptamente, entorta de vez. Cartas e mais cartas o outro corpo precisou falar e quem foi, mal sabe de necessidades alheias, afinal, quando lutamos por liberdade ficamos mais egoístas. Chega de esperar por trens, chega de histórias de milho comido na estrada, chega de tempestades aguardadas na boca de túneis, chega de pessoas dependuradas em árvores pelo pé, chega de grandes eventos, chega de fazer da vida uma reminiscência. Fazer do corpo que partiu um corpo de entendimento e deixar passar.

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Sobre outro lugar e sobre corpo:

Alexander Pivato
Um personagem de sonho que reapareceu no sono tortuoso da tarde, aqueles luxos de horários em que podemos dormir depois do almoço, luxos que são um direito e assim deveriam ser legislados. Reapareceu numa situação em que eu o quiz antes de vê-lo e quando o vi ele era o do sonho outro, sonho que se renovou hoje (não imaginava chamá-lo para mais uma aventura). Sabe, agora a cabeça está um pouco confusa porque despertei confusa através do toque do aparelho telefônico. Muitas pessoas e bêbes e adultos como crianças, aquele lugar estava nesse sonho, inundado e eu tentava encontrar os lugares de solidez através da lembrança sobre o lugar produzida no primeiro encontro, mas não eram muito definidos os caminhos sem água porque as lembraças também não eram rígidas. No caso eu tinha um conhecimento privilegiado dos personagens e do lugar em relação a uma mulher que andava de bicicleta e não queria atravessar a água, mesmo estando dentro da água, ela se movimentava ignorando a água e procurando desesperadamente a terra, a laje, a cerca pela qual ela queria atravessar mesmo sendo difícil e desnecessário para encontrar lugar sem água, atravessar a cerca era continuar na água, porque no outro lado também estava alagado. A acalmei com meu conhecimento prévio e nebuloso do lugar, apenas lhe mostrei uma possibilidade de caminho seco e dessa vez caí na água e me molhei toda, algo que eu não queria mas que não me incomodou. Na queda, não pensei, mas pensei no molhado. Foi então que segui o caminho mais ou menos seco para casa, poderia aproveitar e nadar, porém isso nem passou pelo meu corpo. Foi aí que desejei a cara do homem/rapaz e o imaginei e quando nos cruzamos o vi porque ele já tinha flertado comigo antes, e gostei porque nos concentramos nos olhos também dessa vez e continuei cheia de vontades, continuei para chegar em uma mulher que lavava roupas, queria muito tomar água e a arranjei. O problema era como devolver o copo à pia, pois a pia tinha mudado de lugar em relação ao sonho anterior. Precisava passar pela mulher que lavava roupa, da qual eu me desviava, não podia com aquela pessoa; passar pelas duas mulheres com o bêbe; deixar o copo na pia e voltar para o terreno alagado; queria mais daquela raspagem de corpos... Não posso descreve-lo, não o reconheço aqui, mas o sei no sonho e gosto muito dele, gosto porque não complicamos muito! Tão tonta do sonho que o tive que grafar para passar no tempo e fazer outras coisas, sair daquele corpo de lá, porque fiquei com ele encarnado enquanto comia uma laranja e quem telefonou não esperou o suficente até eu chegar. A vida não nos espera em lugar nenhum, ela também se matiza e impregna alguns lugares. Primavera através das chuvas...

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Entre seres:

Alexander Pivato 
Os redemoinhos, aqueles que deslocam rumos do pensamento, aqueles onde deixamo-nos perdidos porque não há como ficarmos perdidos, aquilo que está no corpo e não quer sair como palavra, porque pretende outras formas de conversa. Interessa que um dia, enquanto lavava a louça do almoço, observava um ser que não sabia nadar, mas que eu não suspeitava que não soubesse nadar, assim como eu, aliás. Suas extremidades corporais, muito mais leves do que a àgua tingida e misturada com o resto da gordura da travessa, procuravam desvencilhar-se da consistência: percebi aquilo como uma situação de lugar, o problema estava em ter procurado explorar um lugar e ter escorregado sem ter como sair. Eu, ali, com as mãos ensaboadas e muito próximas, potência de salvamento, um curto e fácil movimento, teria liberado o corpo em partes com duas antenas e patas que movimentava-se para cavocar uma saída. Olhei com sinsero sadismo a cena, contentamento de ver uma das tantas formigas que dividem comigo a solidão do apartamento (que já não é mais tão solitário, nunca foi!) subtraindo-se da população nômade. Aconteceu que eu fiquei, como escrevi, contente! Ora, contente em ver uma formiga afogar-se. Parece insignificante, mas é muito alto, está na relação catastrófica que tenho com essas criaturas. Porque aqui é uma relação fora do Estado, fora do contrato, fora da negociação entre supostos logos iguais; aqui é a não negociação de uma convivência de estranhos, que caminham diferente, que buscam coisas diferentes, mas que se encontram em lugares comuns, como por exemplo, entre os pratos, entre panelas, entre os alimentos, que ao fim é o que nos deixa frente a frente. É preciso, eu é que preciso, claro está, enfrentar e inventar uma nova política, não de desvio ou exterminação ou júbilo com a morte das formigas, mas uma forma de trânsito em que possamos trocar forças desiguais, em que simplesmente existamos por atravessamentos e não por reações (mais uma vez, as reações, são minhas... as das formigas: continuarem!). Talvez, estar mais formiga, largamente, mais nômade.

terça-feira, 8 de setembro de 2009

Toques de clarim!

Alexander Pivato
Um novo lugar, um novo lugar para ficar com os pensamentos, estou contente. Uma coisa tão simples e agora, hoje, a poucos minutos consegui executar. Contente por ter conseguido registrar uma conta! Os contentamentos são da ordem da simplicidade e acontecem assim, assado, acontecem de repente, passeando pelas janelas de outros amigos, por preocupações outras que tem a ver com política, a política no seu lugar mais alto, política das vivências, aquela em que as potências estão além dos sonos e de sonâmbulos que persistem em organizar conversas normativas. Afinal, há tanta normatividade que é de assustar o que fazemos com nossos cotidianos, pois que há regras para trocar as escovas de dentes quandol é fácil perceber sua inutilidade. São minhas primeiras palavras, com bastante pressão, embora ninguém as lerá porque só eu sei delas por enquanto... é estranho estar aqui rascunhando algo que é íntimo, um exercício, como se as coisas ainda não estivessem sendo escrituradas, mas estão e assim será a proposta desse novo lugar que abri, desse lugar onde as coisas serão por alguns avaliadas, completadas, alteradas, demonizadas, e o que for... pode tanta coisa nesse mundo, pode tanta composição e tanta luta, podem as palavras, podem as guerras, atravessamentos. Considero esse o toque de clarim da reviração, uma reviração até de mim (porque pretendo sair e pretendo que me venham buscar com freqüência, principalmente para a revolta!). Gostei! Vontades de palavras e de coisas...