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terça-feira, 17 de novembro de 2009

anões, formigas, medo.

Alexander Pivato
Água correndo em fio, no movimento ordenado pelas abas do telhado e dois olhos mirando ao longe, com pés apoiados em uma casa no meio de um morro. Uma luz avermelhada atravessando a noite. Mais uma vez a convergência da chuva com a preparação ritual de um corpo que quer caminhar e descer à cidade. Sair com guarda-chuva! Diligentemente abotoar a camisa e assentar a gola sob uma blusa desconhecida, emprestada de uma irmã que está na sala preparando pipocas para viajar com um filme. Essa arrumação acontece no quarto do casal que deitados na cama, não sei o que fazem, pois a concentração está no espelho, no peito feito com a cobertura de tecido. Um último detalhe da indumentária guia para outra dependência da casa e o canto do olho percebe um movimento estranho na terra, lá embaixo, entre as fruteiras. Fantasmas. Afinar uma mirada e de repende pequenos seres a correr pela sacada. Susto! Imediatamente trancar a janela de vidro e mais anões. Um deles tem uma espécie de pote de barro nas mãos que projeta até os vidros, mas o objeto não produz o despedaçamento esperado. Abre-se. Uma base e a tampa e fica parado a um palmo do vidro. Os anões correm, formigas se espalhando desordenadamente por todos os lados. Fechar todas a frestas, eles podem entrar em todos os lugares. Telefonar para a polícia. Instituição que está fora do privado e privando. Pensar nos lugares de passagem e evitar que entrem. A preocupação de não deixar passar ninguém. Proteger as pessoas da casa. E aquele copo de cerveja no parapeito da janela dando espaço de passagem. Nossa, sair daquele sonho. Pular da cama. Banheiro. Dormir mais um bocado e que nada. Anões para todos os lados. Ameaçadores. Que pequenos grandes aqueles, provocadores de fechamento. Dobrar de um lado para o outro a extensão corporal e cavocar um buraco entre os travesseiros, mas nada de sair da companhia dos seres corredeiros. Investigar mais e mais os buracos de passagem e ter medo de descer para trancar portas. O que adiantaria trancar se estivessem armados. E estavam armados com o medo. Sair do sonho. Levantar com aquele terror de anões escalando paredões e invadindo a casa. Quem invadindo aquela vontade de sair por aí, quem me deixando em casa a pensar em cadeados?

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