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sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Quem já não leu assim?


Sim, eu caminhei até o bar mais próximo. Sentei no balcão e pedi uma cerveja gelada. Cerveja gelada, por que não dá para querer beber como alemão ou inglês com a cerveja fabricada no Brasil, não, não dá!
Uma cerveja gelada para a senhorita! Grita o garçom com aquela cara dizendo atrás: mulheres bebendo sozinhas, deprimente. Como se eu não conseguisse ler através das fisionamias. Como se beber sozinho fosse sinal inegável de desilução ou desespero.
Desespero é ficar preso a um pensamento de comportamentos. Não quero saber de comportamentos pré-estabelecidos, quero mesmo saber é de vivências.
Estava lá, copo na mão, livro de fotografias na outra mão, coisas demais na cabeça para ficar esperando conversa: naquele dia.
Esperar conversa é esperar problema – bons ou difícieis, importa só na medida de entender o problema. E poderia ser que:
Sempre pode ser que: no Bar. Mas pode ser quando há tempo para ser.
Um copo de água, por exemplo: ei! Garçom, um copinho de água, pode ser da torneira. Não dá tempo de fazer encontro. Claro, a menos que dois narizes se juntem numa trombada de descoberta e contentamento. Na dinâmica do acontecimento pode até com copo d´água, pensando melhor.
Mas nada de trombadas naquele balcão, naquele final de tarde, naquele dia da semana, naquele mês... naquele planeta. Isso sim! Planetinha perdido! Tanta arrogância e estar confuso, preso pelas pernas a tanta coisa, todo dia.
Outra semana, caminhei até o mesmo bar. Segunda vez. E o garçom me disse por trás das palavras mais uma vez que não era certo. Que certo? Que?...
E da terceira vez, quando ele me serviu a terceira cerveja, falou sem falar, com aquele tipo de respiração pesada de desaprovação, que eu fosse à merda mesmo! Dei de ombros: na merda todos estamos mesmo com a terceira garrafa de cerveja no corpo.
Mais uma? O garçom perguntou arregalando os olhos.
Por que? Acabou a cerveja?
A senhora tem certeza?
Do que?
Que vai tomar a quarta cerveja?
Tu tens problemas com números, sequencias?
Hã?
1 – 2- 3 – 4, sequência?
Não, não!
Pois eu também não tenho quando se trata de cervejas, então, por favor!
Ele saiu e não disse palavra. Se eu fosse ele, pensaria que eu era qualquer coisa. O que ele pensou mesmo, talvez nem ele saiba muito bem!
Um pouco de confusão para uma quarta cerveja.
Bebi. Paguei e voltei um mês depois para comemorar com um amigo. Amigo de infância ainda por cima!
Uma cerveja bem gelada, pedi. Meu amigo contando uma particularidade do fato que estávamos comemorando, trabalhamos juntos. O garçom, o mesmo garçom dentre todos os que serviam naquele lugar, pareceu contente pela primeira vez desde a primeira cerveja que pedi, aquela do balcão e do livro de fotografias.
Fiquei pensando... que vontade de saber exatamente o que passava naquela mente... que vontade... não me aguentei:
Ele arrumou a garrafa na mesa, os copos, serviu-nos. Olhou para meu amigo, para mim e deu um sorriso. Agora ou nunca, minhas entranhas reclamaram:
E ficaram reclamando até a quarta cerveja... fiquei esperando a pergunta: a senhora tem certeza? Nada.