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terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Para Juli:

"Tanto em pintura como em música e literatura, tantas vezes o que chamam de abstrato me parece apenas o figurativo de uma realidade mais delicada e mais difícil, menos visível a olho nu."
Clarice Linspector
Alexander Pivato

:aprender as maneiras figuradas de expressão. dar risada porque parece que escrevo de maneira figurada, mas é tudo quase objetivo. Tão objetivo que estou com dificuldades em diferenciar sonhos da realidade. Uma relação através do sonho com os inimigos, assim como os ameríndios da amazônia. Que movimento fazemos com essas criaturas que compõem nosso corpo, também o repertório epistemológico, se podemos dizer assim. Só as criaturas deles são diferentes das minhas, mas todas são humanas e nós? Como estamos? Eles não tem muitas dúvidas, ou em constante dúvida sabem como compor com os corpos inimigos, eles sabem lutar com "os inimigos fiéis": canibalizam e são canibalizados. Eu ainda estou na fase de entender e conhecer quem são esses inimigos. Por enquanto ainda exercito um pensamento racionalista: isso aconteceu ou foi sonho? E a resposta é quase impronunciável. Me assustei outro dia quando senti uma dor intensa no peito - pontadas atrozes - e não consegui identificar se era sonho ou foi de olho aberto. De qualquer maneira foi real, pensei. E fiquei mais confusa, só que dessa vez a situação foi inversa: tive problemas no corpo acordada e... no outro dia eu pensei que tinha sido sonho porque não havia nem resquício da dor. Embaralhada com os sentidos e aprendendo tanta coisa estranha! Desaprendendo tantas outras fáceis maneiras de organizar o real. Será que se fica louca quando se começa a compor com os sonhos? Mas se for essa loucura de conhecimento eu deixo porque fico contente. Além do mais as coisas estão relativamente fora de controle. Conter? Se eu não fizer eu explodo, explodo mesmo! Como mediar corpo aberto, corpo fechado. Tenho muito para encontrar com os coletivos indígenas. Eles sabem muito mais do que eu do que estou falando. Será que estou falando alguma língua reconhecível por qualquer ser? Escrever em locais públicos tem essa particularidade de se encontrar com supostos leitores. Quais leitores? Penso agora nas pessoas que conheço... a Juli vai entender do que estou falando... acho. Tãobem acho que a Clarice Linspector pensou bom!

3 comentários:

Olhozinho disse...

Entender, entender... quem de nós pode prometer? prometer entender qualquer coisa? ou... melhor que qualquer promessa, como qualquer índio, não prometer...? não entender?! Pouco sabemos, por isso muito prometemos; e prometemos também, quando pressupomos que sabemos muito... em nossos olhos amigos, que procuram sempre amigos, o que saberemos de olhos que procuram inimigos?... o inimigo em mim e uma estranha-familiar (estramiliar)pergunta "quem é o inimigo, quem é você?"
Questão que permanece, como aquela outra "Que país é esse?"... estranha e familiar legião urbana, tão rasa e tão profunda...
uma legião urbana, uma matilha da mata...
superfície de mata funda...
quem é? quem é?
Excesso de vinho e reticências...

atravessamentos disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
atravessamentos disse...

É mesmo... Como prometer entender? Entender já é uma promessa de comunicação? Ou basta entender para sair da cena e produzir vaidades? Mas há um sentido de entendimento que irrompe não se sabe bem de onde, do corpo total (Mauss), acho. E perco também, de repente, sem querer. Fico com os sentidos abanando, tentando buscar aquela imagem mista de pensamento. Mas como diz a Clarice Linspector, depois que pensou já não pensou mais (não sei se é bem assim que ela desenvolve...). Quando se fez organizar o pensamento, ele já não é mais aquele.
"Quem é o inimigo, quem é você?": a melodia fica na cabeça, a ponta da língua com vida própria, vontade de cantar junto e cantamos quando experimentamos "Excesso de vinho e"...

P.S: Removi o comentário anterior porque não consegui corrigir os erros de português que passaram pela minha revisão.

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