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segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Perdi a âncora desde que aprendi a andar e gargalho!

Alexander Pivato
Como não encontrei patinadores, resolvi caminhar por aí. E caminhei, caminhei, caminhei até que as pernas já cançadas de um dia de trabalho pesado ficassem mais pesadas e mais leves para dançar. E não dançei porque a pista estava cheia de gentes que pensaram em dançar. Restou-me tomar banhos de cerveja e desviar de corpos desejosos e desejantes, exceto que nos entregamos àlgum corpo porque se entregar é bom e fazer dessa entrega mais que um desejo de ontem é fazer malabarismos com a vida. Quando se passa um dia inteiro sentindo um cheiro e gostando do cheiro e do ângulo de visão e se percebe que muito preconceito não cabe quando o cheiro fala. Não é bem de preconceito que parto, mas daquelas coisas que a experiência vai demostrando, do tipo: homens jovens e me vem um trecho escrito ano passado: "as coisas que passam. e às voltas esperando outra pessoa. jogando o jogo da vida a procurar relações diferentes. fazer tudo diferente? Por quê? se sempre procurei fazer com os sentidos! e pensar nas não conjugações e das dificuldades com rapazes mais jovens. fazer como com eles? qual calma será necessária para não engolí-los e ter paciência e esperar quando a vontade é despir-me inteira, ir ao banho, girar embaixo dessa chuva de verão, pois meus neurônios queimam, minha pele queima, meus olhos chamejam. na casa em que habitei um dia, ouvindo discos guardados e sentindo momentos que são quase do presente. estou sempre meio fora quando volto para Garibaldi. estranho. e as famílias se preocupando com o meu sexo. hum... faço sozinha e tudo bem. tudo como não deve ser para as famílias: a chuva faz a fome aumentar." Marco essa passagem porque certas questões vem se repetindo nos últimos encontros com as pessoas da noite. A condição está mudando e pedir pela idade é uma preocupação que pelas primeiras vezes está uma preocupação. Não é besteira, entendo muito bem isso agora, embora quando eu estava como jovem tudo isso me parecesse querela. Os desejos são diferentes, assim como as referências... as sensações atravessam e se perdem rapidamente. Aliás, venho pensando que a geração camisinha (como a caracterizou Caio Fernando Abreu) é mesmo cheia de prudências e paranóias. Nós tínhamos paranóia com polícia, com o estado, com a família; eles tem paranóia com as relações e ficam tão longe que mais que vê-los: não é fácil. E por mais difíceis não ficam mais interessantes: ficam, sim, mais distantes e irritantes. que geração é essa que pode tudo, mas quer ficar longe de tudo que possa ser alguma coisa?! Eu estou tentando entender, estou tentando habitar, mas fico esgotada em poucos minutos e procuro um lugar na pista para dançar. Eis que entre uma madrugada e outra surge a lembrança de uma conversa na rua (lembrança de outro, o querido responsável pelas produções...). Salve a rua e as cervejas que nos convencem que vale a pena parar a qualquer momento para falar em rock'roll, somente porque se está em rock'roll e se quer rabiscar sobre como se está. E, era uma vez, que num sábado à noite (sábado à noite em Porto Alegre não funciona sempre, na verdade funciona para quem fica trancado a semana inteira e para os que não ficam: ficam trancados pela angústia guardada durante uma semana de calor e de compromissos profissionais dos primeiros... reticências para os sábados à noite), mas continuando... era uma vez... que os acasos se repetem e produzem bons encontros e sentidos de amizade tão intensos que as coisas caminham em sintonia. Cada qual com suas partituras, porém todos compondo e trocando acordes e acordar e ainda querer trocar melodias. É caloroso acordar com o desejo de continuar em melodias e se canta quando tudo se modifica. Se canta com o quê resta na geladeira e com o corpo se produz contentamento e procura. Se canta para não deixar o silêncio dominar com as mais belas canções. Depois de um sábado à noite em Porto Alegre que dá certo, podemos começar a pensar que o ano terá suas surpresas! Porque começa com vontades. E sabes que tenho muita vontade de balançar largamente tocando os teus lábios.

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