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terça-feira, 2 de novembro de 2010

Eu não tenho culpa, ora essa!

Queria saber se estavas acordada. Sim, mais ou menos. Quero conversar contigo. Tchau. Tchau. 
Quando a hora marcada para a conversa se aproximava quem não desejava que o tempo chegasse, correu ao banheiro, trancou a porta e ligou o chuveiro. Também era necessário o mínimo de asseio depois de uma noite cheia de cheiros. Limpeza para uma conversa que supunha ser também sobre limpeza. Correr, correr é o melhor para fazer crescer, uma vez que os desejos dos outros também batem na porta para impor certos-muitos rigores.
Quem telefonou para falar sério, aguardava no corredor, com um copo d´água nas mãos e cara de mãe preocupada e decepcionada e irritada e um olhar de canto de uma filha que pensava "será que teremos alguma palavra nova nessa conversa séria que tantas vezes já foi séria?" Porque sempre há a possibilidade de uma invenção e se isso acontecesse, seria para uma solução drástica, pois as falas anteriores já haviam chegado no ponto: internação. Sempre o espectro da internação e aquela chatisse de que se fosse, seria uma argumentação à favor, cheia de outras respostas contra, de um lado um falando russo de outro falando japonês e aquele que falava russo só em russo e aquele que falava em japonês só em japonês. Todos os lugares preenchidos sem relação com a situação, a remarcação de um princípio insistentemente ativado. Não houve surpresa nas palavras, mas na forma. Uma intensidade de troca. O  princípio em suspenso, pois é mais difícil julgar quando o outro olha no olho com segurança e não se tem tanta certeza de que crime cometeu. Foi falado em problema, em não saber parar, em imagem - afinal, domingo até tarde sabe-se-lá-com-quem? - bêbados e inconsequentes e se qualquer acidente fizesse um estrago na familia, uma tristeza de filho morto ou prejudicado ou qualquer coisa. E... se eu estivesse como pais eu estaria dizendo a mesma coisa, mas o que posso fazer com essa vontade de loucura, não quero arrancar e quando vejo tudo está acontecendo e fico dentro e brinco e, mais do que nunca, pouco me importo porque me importo demais com tudo desse mundo das classificações, afinal - não deixo de assumir e ir até os limites da responsabilidade. Tudo bem, mas precisas de ajuda, talvez possamos fazer alguma coisa, algum tratamento. Não, por favor, não estou precisando de controle, mais controle, já estou cheia de tanta moral fazendo as vezes de razão. Mas te comprometes a não exagerar? Se é assim, se é por vocês, sim porque por mim, às vezes, tenho mesmo que mandar tudo à merda! Vamos lá, vamos cuidar da preocupação daqueles que gostamos, ser filho é bem difícil também, tanto quanto amoroso. 
Descemos e almoçamos e conversamos sem constrangimento. Teve até pudim de sobremesa... talvez mais dois ovos para diminuir o gosto de amido de milho,outra receita para desviar da ressaca.

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