Pages

quinta-feira, 3 de março de 2011

Parar:

Parar. Parar com muitas brincadeiras. Para deixar de fazer tentativas infinitas. Para trabalhar antes de mostrar coisas às pessoas.  Para ficar mais escravo de si mesmo, mais escravo do mundo-roda-viva.

Uma das questões dos tempos de hoje (e imaginemos nós de quantos mais): mostrar não resolve o que as pessoas veem. Porque as pessoas sempre veem alguma coisa para positividades ou negatividades, às vezes, até muito a mais, veem as coisas do entre e isso tem a potência para produzir encontros. Mas, muitas vezes, veem o que querem ver. E um problema pode acontecer quando o querer  repousa  na padronização da forma monólogo de comunicação.

Pessoas que veem desrazão até antes de a boca falar. Que - com sorriso - acenam uma condição indesejável para uma conversação. Elas tem o direito de acenar. De dizer sim e não e ficar em dúvida e brigar. As pessoas tem o  poder de ir até as últimas consequencias quando se faz conversa. Para não fazer conversa, se usa e abusa do direito de categorizar ou de ser uma delicadeza duvidosa.

Acaba-se com o assunto antes de ele poder estar um assunto. Rompem-se os pratos, mudam-se as posições na sala, outros lugares e outras entonações das vozes. E ninguém entende nada porque nada foi dito, além da vontade de sarcasmo. 

Também acontece que se decide saber com toda certeza sobre uma vida que nunca mais com-vivemos. Bater o pé,  querer jurar! que alguma coisa está modificando aquela vontade que antes estava outra e que se supunha conhecer: desconhecer uma vontade atual é não se encontrar mais com ela. Os que se encontram sabem intensamente das transformações (ao menos se aproximam mais).

De qualquer forma as mudanças são bem pragmáticas às vezes - cada vez mais - quando as rugas acompanham contas, filhos e um futuro de incertezas (como qualquer futuro, aliás). Assim nos encontramos também com nossos próprios tempos e geografias. A vida na constância de múltiplas mudanças. Quando é através do múltiplo dos outros que nos damos conta que também não somos mais os mesmos ou somos os mesmos de um outro discurso.

Para afirmar que estar nas coisas não é fácil, principalmente, quando se está transitando entre sentimentos pesados. Esses acontecem com tanta força que entortam. E sempre tem outros tantos para entender perturbações e fraquezas e pedidos de socorro sussurrados com olhos de fogo. Tem outros para continuar nos fazendo mudanças. Ainda bem.

A personagem pára. 

Parar. Parar com não fazer brincadeiras. Para deixar de fazer tentativas infinitas de retidão de um pensamento circense. Para trabalhar antes de mostrar coisas às pessoas, trabalhar com o prazer do corpo inteiro.  Para ficar mais livre de si mesmo, mais livre do mundo-roda-viva.

0 comentários:

Postar um comentário