Pages

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

A cozinha de Um Homem Chamado X

Um homem chamado x continua andando a pé para comprar o tal chapéu Panamá. Mas também anda nervoso porque o sol está tão suportável quanto uma chapa quente que te persegue a cada passo. Falando em chapa e coisas quentes, um homem chamado x estava com dúvidas sobre a disposição das coisas na sua cozinha. Como dúvidas? Ele mesmo, coçando a cabeça, entrava no absurdo. Porque se alguma coisa era verdade, além da destruição da camada de ozônio, era que aquela cozinha precisava mudar de alguma maneira. Ela, completamente sossegada, produzia estranhas resistências. Ele chegou a pensar que tudo era um sonho, impossível cozinhas com vontade própria. Aquele lugar tinha quase mais vontades do que ele quando o assunto era permanecer exatamente com as cadeiras no mesmo lugar; paredes brancas levemente amareladas - já que um homem chamado x pouco cozinhava (por aqui a história mereceria maiores detalhes, não para o deleite do leitor, uma vez que o deleite do leitor atualmente parece ser o ponto final de uma escritura, mas sim porque cada prato era realmente um exercício de cores e cheiros e sabores e, às vezes, desamores) - copos e pratos comprados na mesma promoção, fabricados com o mesmo material, pintados ou melhor seria dizer tingidos, com as mesmas figuras abstratas (ele gostava de abstratos, ele gostava de pessoas Pollock e coisas Pollock e cores Pollock e tempos Pollock, ele gostava); a geladeira que era uma voz incessante a marcar o compasso da sua irritação; bem... o fogão ele trocara há dois anos, mas parecia uma peça fora do lugar, segundo a perspectiva da cozinha. Um homem chamado x, por pouco dinheiro, ficava com as paredes, mas aquela cozinha tinha que deixar outras passagens, outras espaços... ele faria como? Convencer uma cozinha, era, sejamos no mínimo o mínimo, nada muito normal: aquela vida normal que acontecia com ele quase sempre. Mas como quase acontece mais que o sempre ele comprou cadeiras da década de cinquenta numa loja de roupas que estava liquidando até os bicos de luz do estabelecimento. Chegou em casa com o entusiasmo de cadeiras da década de cinquenta, chegou em casa com mudanças para a outra, para aquela cozinha que se tornara apavorante pelos iguais a todos os dias que ela emanava. Sim, ela emanava ela mesma em todas as manhãs e noites... sem contar os finais de semana... sem dinheiro para almoçar fora... e aquela cozinha. Eram três cadeiras, três cadeiras dos anos cinquenta, três que ele arrumou pacientemente perto da parede, sem remover as antigas da sua posição privilegiada à mesa. E começou a sentar-se nos anos cinquenta para almoçar nos sábados à tarde, depois de longos suspiros deitado na rede. Sentou-se no chão apoiando o prato na cadeira da esquerda dos anos cinquenta. Carregou uma delas para o quarto e experimentou ver um filme sentado, ali, meio desconfortável, meio satisfeito, meio pessoa que esqueceu que pode deitar para esticar o corpo. Um fato: a cozinha agora reclamava uma presença para estar cozinha ao menos nos cafés da manhã. Resolveu expulsar as antigas cadeiras (com uma inscrição para que fossem levadas pelo "mensageiro da caridade") e quebrou os pratos no melhor da tradição grega e fez da geladeira prateleiras. Parou por um instante e entendeu, pela primeira vez, o que aquele fogão fazia ali. Parou com o fogão. Um homem chamado x voltou sem ganhar e perder nada naquele dia. Porteiro, chaves, porta, movimento na maçaneta e cozinha! Coisas no chão. Quem havia feito em seu apartamento?

0 comentários:

Postar um comentário